O Presidente da Venezuela morreu hoje na sequência de um cancro. Reeleito para um quarto mandato, não resistiu até à tomada de posse, cuja data estava em aberto.
O agravamento do estado de saúde de Chávez já tinha levado o seu braço-direito a dirigir-se hoje à nação, em direto do Palácio Presidencial de Miraflores em Caracas. Num discurso pessimista, Maduro admitiu que o líder venezuelano estava a enfrentrar “complicações”, acusou os “inimigos da revolução” de lhe terem provocado a doença, abrindo portas para que o caso possa vir a ser investigado, e revelou ter sido expulso um diplomata dos EUA por alegada conspiração. Hugo Chávez era o líder mais controverso da América Latina. Chegou ao poder em 1998 e foi reeleito três vezes (2000, 2006 e 2012). De permeio, venceu um referendo que alterou a Constituição, consagrando mandatos presidenciais ilimitados. Hugo Chávez gostava do poder e sonhava não abandona-lo. A vitória nas presidenciais de 7 de outubro passado, quando a o seu estado de saúde já era mais noticiado do que os seus feitos políticos, possibilitava-lhe uma longevidade política até 2019. Ao seu povo, Chávez pediu mais tempo para concluir a sua revolução socialista. Chávez subiu ao poder em 1998, apoiado numa plataforma anti-pobreza e anti-corrupção. Ganhou as eleições com 56% dos votos e, no ano seguinte, lançou o Plano Bolívar, para recuperar infraestruturas decadentes e acabar com as privatizações. Paraquedista golpistaOs seus apoiantes diziam que ele era a voz dos pobres. Os críticos acusavam-no de ser crescentemente autocrático e recordavam o seu “modus operandi” anterior à presidência. A 4 de fevereiro de 1992, ele liderara uma tentativa de golpe contra o Presidente Carlos Andres Perez. Chávez tinha 38 anos e era paraquedista. Entrara para a Academia Militar aos 17 anos e ali se deixara deslumbrar pela figura e pelos ideais de Simon Bolivar, o revolucionário venezuelano que influenciou as independências na América Latina. Em 1992, Chávez tentara tirar dividendos políticos do descontentamento popular resultante das medidas de austeridade e de repressão adotadas pelo Governo e que desencadearam protestos e distúrbios (“El Caracazo“). Mas o golpe acabaria por falhar. Passou dois anos na prisão, sendo perdoado e libertado em 1994 pelo então Presidente Rafael Caldera. Em 1997, fundou o Movimento Quinta República, como que preparando a transição da fase de soldado para a fase de político. Um ano depois, era chefe de Estado da Venezuela. Deposto durante 47 horasA 11 de abril de 2002, uma tentativa de golpe afastou Chávez do poder durante 47 horas. A manobra foi reconhecida pelos Estados Unidos, o que levou Chávez a acusar Washington de ter orquestrado o golpe. A relação entre Caracas e Washington era turbulenta. Chávez chamava ao Presidente dos EUA George “Mr. Danger” Bush (George “Sr. Perigo” Bush). Iniciada a guerra no Afeganistão, em 2001, Chávez acusou os EUA de combaterem o terror… com mais terror. Seguiu-se a guerra no Iraque e Chávez continuou a não poupar Bush. “O Diabo veio cá ontem”, disse, benzendo-se de seguida, a 20 de setembro de 2006, na Assembleia Geral da ONU, referindo-se ao discurso, na véspera, do chefe de Estado norte-americano. “Ainda cheira a enxofre.” “Por qué no te callas?”Inversamente à animosidade com Bush, desenvolveu uma grande proximidade com Fidel Castro, uma espécie de pai político, a quem visitou várias vezes em Havana após “El Comandante” se ter afastado da política ativa por razões de saúde. De língua afiada, assegurava aos domingos de manhã o programa televisivo “Alô Presidente!”, onde discursava, entrevistava, cantava e dançava e respondia a perguntas dos telespetadores. Tornou-se um fenómeno mediático, inclusive no dia em que ficou sem reação quando Juan Carlos de Espanha lhe atirou na cimeira ibero-americana de 2007, em Santiago do Chile: “Por qué no te callas?”. Quimioterapia em HavanaFilho de um humilde casal de professores, Hugo Chávez Frias nasceu a 28 de julho de 1954, em Sabaneta, no estado de Barinas (sudoeste do país), o mais pobre da Venezuela. Era o segundo de seis irmãos. Morreu hoje em Havana, após complicações respiratórias na sequência de uma infeção pulmonar. A 30 de junho de 2011, num discurso à nação, Chávez admitiu pela primeira vez que tinha cancro. A doença tornou-se um assunto de Estado, as suas aparições públicas começaram a escassear em virtude da degradação do seu estado de saúde e das deslocações a Havana para sessões de quimioterapia. Nas redes sociais, dispararam os rumores. Até ao dia em que a notícia da sua morte foi confirmada. |
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/morreu-hugo-chavez=f777386#ixzz2MiP89R00