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As Mulheres que governam Angola

Mulheres de Angola

 

Ministras que governam Angola

 

Dos 28 ministros que o Governo de Angola possui, oito são mulheres. Já foram mais, mas juntam-se a estas um número interessante de secretárias de Estado, vice-ministras e outras em lugar de destaque no aparelho de governação. Na recente visita do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon a Angola, ele afirmou, que relativamente à igualdade de género, o nosso país estava no entre os dez do mundo com maior participação feminina (segundo um documento do Ministério do Planeamento, a participação no Governo central era de 28% em 2010 — veja infografia detalhada neste artigo).

A importância das mulheres no aparelho do Estado não surge por acaso. De acordo com os dados do último ano lectivo, cerca de 60% dos estudantes universitários no nosso país são mulheres. E já é assim há vários anos. Existe, por isso, uma vaga de suporte ao papel já interessante que as mulheres têm na gestão da nossa sociedade.

Das actuais ministras, algumas tiveram uma vida partidária muito activa desde os tempos da juventude, caso de Carolina Cerqueira ou Ana Dias Lourenço. Outras, mais tarde, tiveram uma importância grande dentro do partido a que pertencem, tais como Fátima Jardim, Guilhermina Prata ou Idalina Valente. Outras ainda chegaram aos Ministérios porque tiveram uma vida académica muito intensa, produzindo inúmeros documentos sobre as matérias a que estão ligadas, casos de Rosa Cruz e Silva e Maria Cândida Teixeira.

O que todos lhes reconhecem é uma enorme capacidade de trabalho, profissionalismo e bom senso. Outro facto de saudar é o de pertencerem a gerações diferentes. Ministras na casa dos 60, dos 50, com excepção de Carolina Cerqueira que é mais nova das mulheres no Executivo. São todas formadas, com cursos superiores e pós-graduações, com experiência internacional nas matérias que dirigem, o que as coloca com todo o mérito no lugar que ocupam.

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Ana Dias Lourenço
Ministra do Planeamento

Está há 15 anos no Governo, sendo Ministra do Planeamento desde 1999, e é considerada um dos mais bem preparados quadros do nosso país. Foi uma excelente aluna, fez o Curso Geral de Liceus no antigo Liceu Dona Guiomar de Lencastre e formou-se em Economia, na Universidade de Angola em 1983, quando tinha 25 anos. Em termos profissionais, começou por ser professora no ensino básico e, enquanto tirava o curso, foi também monitora na Faculdade de Economia, entre 1981 e 1983.

Ana Dias Lourenço dirigiu o conselho de ministros da SADC que ocorreu este mês em luanda

Depois da licenciatura assumiu a chefia do departamento de investimentos, do Gabinete de Investimentos e Construção do Ministério do Planeamento. Juntamente com o desenvolvimento profissional, manteve sempre uma forte militância política. Entrou para a JMPLA em 1974, foi um elemento destacado no Movimento Pré-Associativo Estudantil no Liceu M’Zinga Bandi, em Luanda, membro da Comissão Directiva Provincial de Luanda e membro da I Comissão Nacional da Associação dos Estudantes do Ensino Superior. No complemento da sua formação, fez várias pós-graduações, destacando-se uma formação em Análise e Avaliação de Projectos concluída no Banco Africano de Desenvolvimento (em Abdijan) e um curso de Gestão de Políticas Macroeconómicas feito, em Portugal, no Instituto de Desenvolvimento Económico do Banco Mundial.

Tem desempenhado um papel de destaque na SADC, onde está desde 2001, sendo a presidente do conselho nacional para esta organização. Ainda recentemente, foi ela quem dirigiu os trabalhos do Conselho de Ministros da SADC que aconteceu em Luanda. Assume também as funções de presidente do Conselho Nacional de Estatística e de governadora de Angola para o Banco Mundial.

Carolina Cerqueira
Ministra da Comunicação Social

Assumiu a pasta da Comunicação Social, em 2008, com naturalidade. Carolina Cerqueira foi jornalista, desempenhou diversos cargos de chefia e direcção em órgãos de comunicação públicos e teve desde sempre uma vida partidária muito activa. É a mais nova das ministras, mas muitos reconhecem que lhe estão reservados outros cargos importantes no Governo de Angola.

A nova lei do estatuto do jornalista foi elogiada por todos os profissionais do sector

A fórmula inteligente como lidou com a Lei do Estatuto do Jornalista, promovendo um amplo debate nacional, e a forma como tem gerido a questão da imprensa privada, merecem-lhe elogios por parte dos companheiros de partido. Mas também dos seus opositores. Apesar de ter perdido recentemente o seu marido, nunca misturou a sua vida pessoal com os assuntos da causa pública, podendo dizer-se que a sua actuação é discreta, mas eficaz.

 

Genoveva Lino
Ministra da Família e Promoção da Mulher

Chegou ao Ministério da Família e Promoção da Mulher, em 2008, substituindo Cândida Celeste da Silva, que estava no cargo desde a fundação do Ministério em 1999. Com um passado ligado á vida política, teve a responsabilidade de produzir e fazer aprovar uma das leis mais importantes do actual Executivo — a Lei Contra a Violência Doméstica.

A lei contra a violência doméstica 
é um marco. vai estar em foco no mês da mulher

Ao longo destes quatro anos, o seu Ministério tem-se destacado pelo número de iniciativas que desenvolve e pela quantidade de legislação que tem proposto para aprovação. Genoveva Lino manteve o seu lugar na remodelação de 2010, quando o Governo foi renomeado em função da aprovação da nova Constituição. A sua determinação vai mais uma vez ser posta à prova no Ministério que estará sob os holofotes da comunicação social durante todo o mês de Março, dedicado à mulher.

Guilhermina Prata
Ministra da Justiça

Completa 60 anos, no próximo dia 8 de Maio. É uma das mais experientes ministras do actual Governo, está no Executivo desde 16 de Dezembro de 2004, tendo sido nomeada na altura vice-ministra da Justiça. Em 2008, foi nomeada responsável máxima pelo Ministério que dirige, e reconduzida em 2010 no âmbito da reformulação da Constituição angolana.

Em 2012, completará os 40 anos de actividade profissional, que começou em 1972 na Cabinda Oil, hoje Chevron, onde era escriturária. No início dos anos 80 muda-se para Mobil Oil portuguesa e resolve tirar o curso de Direito. Forma-se na Faculdade Agostinho Neto, a 13 de Agosto de 1985, quando tinha já 33 anos. Entra depois para o departamento jurídico da Cimangola e em 1986 aceita o cargo de directora do Gabinete dos Estudos Jurídicos da Assembleia do Povo.

Tem uma ascensão rápida na política, tendo sido eleita deputada em 1992 e, no ano seguinte passa a ser secretária do Grupo Parlamentar do MPLA. Em 1999, passa a ter a função de assessora jurídica do Grupo Parlamentar do MPLA. Manteve, no entanto, durante todo este tempo a sua actividade de advogada, tendo apenas deixado de exercer em Dezembro de 2004 quando é nomeada vice-ministra da Justiça. Os seus companheiros de partido reconhecem-lhe uma enorme capacidade profissional, aliada à experiência de ter estado durante 12 anos a trabalhar na Assembleia Nacional, tendo integrado inúmeras comissões. Terminou o mestrado em Ciências Jurídicas-Empresariais  pouco tempo antes de entrar no Governo. Hoje, é uma referência do sector da Justiça e uma das ministras mais respeitadas do nosso Executivo.

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Idalina Valente
Ministra do Comércio

É licenciada em Economia. Desde cedo que se ligou ao MPLA, tendo sido dirigente juvenil do partido e dirigente estudantil no tempo em que esteve na faculdade. O seu primeiro cargo público de destaque foi como directora da área técnica do Gabinete de Planificação Regional Sul – Huíla, Namibe, Cunene e Cuando Cubango – entre 1989 e 1992, quando tinha apenas 30 anos.

Nas eleições legislativas de 1992, foi eleita deputada, tendo sido nomeada pelos restantes deputados como presidente da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional. Ocupou esse mesmo cargo até 1995, tendo entrado no no ano seguinte no Governo como vice-ministra do Planeamento.

Em 2000 volta ao Parlamento, tendo assumido o seu lugar de deputada até 2008. Entre 2006 e 2008 foi também presidente do conselho de administração da Assembleia Nacional. Ligada ao meio académico, fez duas pós-graduações, uma em Políticas Macroeconómicas (Económicas e Sociais) e outra para Executivos de Alta Direcção, na Universidade Católica Portuguesa, em Luanda (2002). Foi também docente nesta instituição entre 2001 e 2006, leccionando a disciplina de Microeconomia.

Estudou com muita profundidade os fenómenos económicos e sociais, com especial destaque para alguns trabalhos técnicos que fez sobre a pobreza, o papel económico da mulher ou o microcrédito. Em 2008, assumiu a pasta do Comércio, lugar que mantém até hoje. É também membro do Comité Central do MPLA.

Maria Cândida Teixeira
Ministra da Ciência e Tecnologia

É especialista em Física Nuclear. Formou-se em Física, na Universidade Agostinho Neto, e fez mestrado e doutoramento em Física Nuclear Aplicada, através da Comissão de Energia Atómica do Vietname, em colaboração com Universidade Politécnica de Hanói. Com uma larga experiência no meio universitário, passou grande parte da sua vida profissional ligada ao ensino superior. Professora, investigadora, ligada à Faculdade de Ciências, foi também coordenadora provincial de Física de Luanda, auxiliar de investigação, monitora de departamento, docente, professora auxiliar e vice-decano para a área científica deste estabelecimento. Fala cinco idiomas – português, espanhol, inglês, francês e russo – e do seu currículo constam participações em inúmeros congressos e seminários, assim com também bastante exposições escritas da área em que é especialista, Física Nuclear.

Nasceu no Luena, província do Moxico. Contrariamente a algumas suas colegas de Governo, não teve uma participação na vida partidária muito activa, tendo chegado à causa pública por via do destaque na vida universitária.

Maria de Fátima Jardim
Ministra do Ambiente

É a ministra com mais tempo de Governo. Ao todo, são 16 anos. Desde cedo que entrou na vida política, fazendo-se militante do MPLA, sendo hoje membro do Comité Central. Está também ligada a outras actividades, fez parte do Fundo Lwini, é presidente da assembleia geral do Comité Paraolímpico de Angola, é vice-presidente da Fundação Kissama, faz parte como vogal da direcção da Liga Africana, é presidente de honra da Juventude Ecológica Angola, entre outros cargos.

A sua entrada no Governo dá-se em 1990 quando é nomeada vice-ministra das Pescas. Depois das eleições de 1992, passa a Ministra das Pescas. Em 1996, com a reorganização do Governo, é reconduzida como ministra das Pescas e Ambiente, cargo que ocupou até 2002. Quando sai do Executivo assume o lugar de deputada na Assembleia Nacional, onde está de 2003 a 2008. Depois das eleições legislativas, é nomeada, em Outubro de 2008, como Ministra do Ambiente. Foi reconduzida em 2010, depois de aprovada a nova Constituição, mantendo no cargo até hoje. A sua experiência política é muito grande, sendo sempre uma das mulheres referenciadas para os mais altos cargos do país.

 

Rosa Cruz e Silva
Ministra da Cultura

Chegou ao Ministério da Cultura em 2008, depois de um amplo e importante trabalho que desenvolveu no Arquivo Histórico Nacional. Formada em História, está ligada a muitos dos estudos que se fizeram sobre a nossa cultura e as nossas raízes. Teve uma vida académica muito activa, sempre ligada ao conhecimento, tendo fundado e dirigido em 1994 a revista Fontes & Estudos, onde se concentram os mais valiosos contributos para este sector. Tem tido um trabalho muito importante na defesa das línguas nacionais, que culminou recentemente com a feitura de todo o quadro legislativo que enquadra este tema. A recente aprovação da Lei do Mecenato é também uma das suas vitórias e será no futuro um importante contributo para o desenvolvimento da cultura angolana.
Por: João Armando

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